terça-feira, 26 de março de 2013

BATE BOLA com Sambaquy




















Tempero baiano

Grande a participação do Gabriel, neto de Roberto Dartanhã Costa Mello, um dos seis participantes na criação da Regra Brasileira no distante ano de 1967, jogando pimenta no churrasco gaúcho. Acredito que foi um golaço do Gothe, aproximando os nossos eternos parceiros nessa Regra que tanta felicidade traz a cada botonista que a pratica.

Lembro ainda da nossa chegada a Salvador, na noite de 10 de janeiro de 1967, dirigindo-nos a casa de Oldemar Seixas, onde encontramos a nata baiana do futebol de mesa. Dentre eles estava o Dartanhã, pessoa de qualidades inesquecíveis e um dos maiores botonistas que já vi em ação.

Durante as várias noites em que nos debruçamos diante daquela que seria a regra a ser utilizada, conhecemo-nos melhor e a cada novo dia sentíamos a validade daquilo a que nos propúnhamos. A Regra Brasileira teria de ser criada e dependia de nosso esforço para que isso acontecesse. Poucos dias depois, com a mesma completa, fomos distinguidos, Ghizi e eu com um diploma de homenagem que dizia: A LIGA BAHIANA FUTEBOL DE MESA confere o presente diploma de homenagem a Adauto Sambaquy – pioneiro do novo Futebol de Mesa Brasileiro. Salvador, janeiro de 1967. Assinavam: Roberto Dartanhã Costa Mello (secretário) e Oldemar Seixas (presidente). Esse diploma, amarelado pelo tempo, é guardado com muito carinho, pela honra que tenho de ter ajudado a criar essas regras desse esporte que nos une.

Há ainda uma comemoração que foi feita na residência de Dartanhã. Um jantar comemorativo em que os dois gaúchos eram os convidados de honra. Uma festa maravilhosa, com a presença de toda a Liga Baiana. E então começaram as provocações, através de Ademar Carvalho, um eterno gozador que não perdia a chance de fazer chacotas com todo mundo.

O alvo em questão éramos nós. Vamos colocar uma pimentinha na comida dos gaúchos? Gaúcho não come pimenta... são fraquinhos... e assim por diante. Ademar olhava para nós e dizia que éramos pelotenses, e não filhos de Porto Alegre e Caxias do Sul. Eu levei na brincadeira, mas o Ghizi, num arroubo de machismo levantou a voz e disse categórico: - Gaúcho não perde para baiano, daqui a pimenta...

Não é necessário dizer que parou tudo. Todos os olhares voltaram-se para o nosso herói. Até as cozinheiras vieram para a porta, para ver a bravata do presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Foi assim que Ghizi, teatralmente apanhou uma colherinha e pingou uma gotinha em sua comida. A tensão aumentou, olhos se arregalaram e esperando o desfecho final, alguns até de boca aberta. Ghizi apanha a comida e leva a boca, engolindo-a... e vermelho como a própria pimenta levanta e sai correndo em direção à cozinha, gritando enlouquecido; - água, água, por favor. Foi pior a emenda que o soneto.

Por uma semana o nosso amigo quase nem caminhava mais. O trajeto obrigatório era da cama para o banheiro.

Eu tive a honra de apitar o jogo final do segundo campeonato brasileiro, realizado em Recife, em agosto de 1972, entre Roberto Dartanhã e Cesar Aureliano da Hora Zama, outro botonista completo. Foi um jogo emocionante, em que na única falha por parte de Cezar Zama, Dartanhã marca o seu gol e sagra-se Campeão Brasileiro de Futebol de Mesa. Dartanhã construiu a jogada e a bola até ficou fácil para ser retirada pelo Cesar Zama, mas, o botão trancou e não chegou até a bolinha. Coisas que acontecem no futebol de mesa.

Encontramos-nos ainda diversas vezes, no Rio de Janeiro, em Vitória e nas diversas vezes em que estive na Bahia. No último brasileiro tive a felicidade de poder abraçá-lo novamente e partilhar algumas horas na companhia desses dois amigos Dartanhã e Oldemar.















Portanto, o tempero baiano está impregnado em nosso churrasco há muito tempo e agora consolidado com a presença desse neto, herdeiro do grande campeão brasileiro.

Ademar Carvalho e Oldemar Seixas 

Se alguém merece o título de desbravador no futebol de mesa, os nomes são desses dois baianos. Foi por um convite feito ao Oldemar, por ocasião do Torneio de Primeiro Aniversário da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, em julho de 1966, que tivemos a primeira apresentação da Regra Baiana. O convite foi aceito pelo Oldemar e com ele veio o Ademar Carvalho. Jogaram na Regra Gaúcha e o Ademar conseguiu ser o vice campeão, enfrentando as feras porto-alegrenses da época. Após o torneio ser realizado nas dependências da AABB de Caxias do Sul, os dois baianos deram uma demonstração de como se jogava na Boa Terra. Aquilo foi de encher os olhos de todos os presentes, pois até então jogávamos com botões fabricados na Vila Scharlau, um de cada cor. Os baianos trouxeram a novidade de times padronizados distribuídos em uma mesa muito maior a que utilizávamos. Calou fundo em cada um de nós. Por essa razão, seguindo os passos dos dois pioneiros, seguimos para a Bahia com a intenção de criar algo que pudesse unir os botonistas brasileiros. E conseguimos.

Mas, as histórias desses dois amigos são bem diferentes. Ademar era o típico brincalhão, que topava tudo o que aparecesse pela frente. Se a bebida era cerveja, ele bebia, se fosse vinho, também, e até a cachacinha tradicional do inverno gaúcho ele provou. Oldemar, pelo contrário, só bebia guaraná. Era incrível a gozação que o Ademar fazia com ele, mas ele era irredutível e não colocava álcool na boca de maneira alguma.





















Como eles vieram em julho, no rigor do inverno, os coloquei para dormir na casa de uma tia de minha ex-esposa. O pessoal todo atencioso providenciou bolsas de água quente para que eles colocassem nos pés, durante a noite, pois o frio era demasiado. Na segunda noite a bolsa da cama do Oldemar rasgou-se e ele ficou todo molhado. No dia seguinte tive de providenciar a transferência deles para o Alfred Hotel, onde o ar quente dos quartos ajudaria a suportar o frio gaúcho.

Após o torneio, os dois resolveram dar uma esticada a Montevidéu. Do aeroporto foram diretamente para o hotel, pois chegaram ao anoitecer. Na manhã seguinte, na portaria do hotel, um jornal local dizia em letras garrafais: - Estamos helando -6°. Os dois marcaram as passagens no hotel e rumaram para o aeroporto sem visitar lugar algum.

Ao chegarem a Salvador telefonaram para mim, dizendo: - Chegamos à terra do sol macho, pois o de vocês é muito fresco...
















O primeiro campeonato brasileiro realizado foi em Salvador e o presidente da Liga Bahiana era o Ademar Carvalho. Empresário, tinha a capacidade de organizar, mas cercou-se de dois dentistas que mantinham um consultório no Edifício Sulacap, no centro de Salvador. Entre os dois consultórios havia uma sala de espera bem espaçosa. Havia uma combinação entre eles de atenderem até determinada hora. Ao chegar essa hora fechavam a porta de entrada e colocavam uma mesa para se deliciarem jogando. Dr. Kleber e Dr. Próculo foram os organizadores, cronometristas, enfim, os que carregavam o piano da competição. Sucesso absoluto, na organização, mas os sergipanos Átila Lisa e José Marcelo frustraram os planos, pois ambos foram os finalistas, deixando os baianos José Santoro Bouças (Pepe) e Oldemar Seixas com a terceira colocação, uma vez que não houve disputas para definir as demais colocações. Os gaúchos Airton Dalla Rosa e Jorge Compagnoni ficaram em quarto lugar, para a honra e glória do Rio Grande do Sul que se fazia representar nessa memorável competição.

Para avaliar bem a malandragem do Ademar Carvalho, um torcedor fanático do Vitória, assistimos a um jogo do rubro negro contra o Atlético Mineiro, na Fonte Nova. Oldemar Seixas era locutor esportivo e narrava o jogo para uma emissora baiana. Finda a partida, esperamos pelo Oldemar, um dos maiores torcedores do Bahia, conseqüentemente odiado pelos torcedores do Vitória e o mesmo embarcou no carro de Ademar. E o Ademar, malandramente passava pelos torcedores do seu time e dizia em voz alta para eles escutarem: Olha aqui a atrás o Oldemar Seixas do Bahia...

Não é necessário dizer que o Oldemar se escondia deitado no banco e pedia pelo amor de Deus para ele parar. Era tão doido que, algum torcedor maluco poderia apanhar uma pedra e danificar o carro dele, tentando atingir o Oldemar... coisas do Ademar Carvalho, grande amigo que se foi depois de uma cirurgia no coração. Aliás, avisado pelo Oldemar, fui a ultima pessoa a falar com Ademar, pois na noite anterior liguei e desejei boa sorte. Ele ficou feliz com a minha ligação e disse que assim que saísse do Hospital retornaria a ligação, marcando um encontro comigo. Passaram-se os dias e nada, até que resolvi ligar novamente e Margarida, sua esposa, atendeu. Chorando ela me contou que não houve coagulação e a cirurgia apesar de simples foi fatal.

Ademar, que era mais velho que Oldemar e eu, praticava muito bem o futebol de salão. Para poder jogar, uma vez que no condomínio onde morava havia uma quadra, tomava aspirina infantil para afinar o sangue. Foi fatal para ele. Perdi um grande a inesquecível amigo.

















O tempero baiano fez aflorar inúmeras lembranças, mas vou parar por aqui, pois se continuar não paro mais. Até o próximo bate papo.

PORTO ALEGRE 241 ANOS !


















Nossa homenagem neste 26 de março de 2013 aos 241 Anos da capital de todos os gaúchos, cada vez mais de todos, cada vez mais porto-alegrense.

Um comentário:

abiud Gomes disse...

Como é bom saber das histórias contadas por Sambaquy. Bons tempos do botão. Aqui em Pernambuco, principalmente no Recife, se joga botão de todas as maneiras, mas os núcleos são bem distintos. Eu, por exemplo, jogo o botãobol (regra pernambucana), com bola esférica de borracha, botões cavados, tamanho médio 35,5mmX5,5mm, goleiro cilíndrico medindo 60mmX40mm. O cam po de jogo é semelhante ao da regra de 12 toques (regra paulista).
Para terminar: o blog é espetacular.