domingo, 24 de fevereiro de 2013

BATE BOLA com Sambaquy




















Remexendo no passado – Regra Gaúcha

Sei que o assunto vai levantar opiniões contrárias, mas devo esclarecer a todos que eu vivi esses momentos e por isso falo abertamente sobre essa regra pioneira. Caxias do Sul iniciou a prática do futebol de mesa nessa regra, no ano de 1963. Nossas mesas foram adquiridas junto ao Lenine Macedo de Souza e estavam espalhadas em diversas agremiações. Com o tempo fomos construindo outras, nas mesmas medidas, mas feitas de pau marfim. Todos os botões utilizados eram puxadores, embora a AABB tenha adquirido dois times da marca Lione, os quais ficavam depositados no departamento à disposição daqueles que não tinham time para jogar.

Desde esse ano tentávamos jogar o campeonato estadual que era realizado sempre em Porto Alegre. Depois de dois anos de negativas fomos informados que necessitaríamos criar uma entidade que reunisse todos os clubes praticantes do futebol de mesa de Caxias. Foi então que, em 1965, foi fundada a Liga Caxiense de Futebol de Mesa.

Ao final do ano partimos para Porto Alegre, ladeando nosso campeão: Deodatto Maggi. Viajamos de ônibus, acompanhando e torcendo pelo nosso representante, juntamente com o amigo Sérgio Calegari. Da Rodoviária nos dirigimos à sede do clube “Piratas”, onde nos esperava Paulo Borges, campeão porto-alegrense. Chovia a cântaros e ficamos decepcionados com a falta de quorum. Éramos quatro pessoas no recinto, três caxienses e um porto-alegrense. Mas, como chovia atribuímos a isso a falta de assistência. O campeonato estadual foi realizado em uma única partida, na mesa de propriedade do próprio Paulo Borges, que acabou vencendo-a. Isso chamou a nossa atenção para a falta de comunicação da Federação com os seus filiados. Com isso procuramos conhecer a história dos estaduais gaúchos.

























Consultando jornais antigos (Folha da Tarde Esportiva, Folha da Tarde e Última Hora) do ano de 1962, tomamos conhecimento que os participantes daquele campeonato eram de Porto Alegre (Lenine Souza, Milton Mendonça, Silvio Bareta, Celso Plentz, Sidney Pardo, Túlio Casapicola representando diversas entidades), Rio Grande (Waldir Ferreira, Clair Marques, Jorge Alal, da Estrela Vermelha) e Santa Maria (Doutor João Adalberto Soares Behr e Eli Figueira).

Depois disso procuramos nos inteirar sobre o desenrolar dos campeonatos gaúchos, que afinal era a única promoção da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, e ficamos sabendo que de 1962 até aquela data somente botonistas da capital o haviam vencido. As outras promoções que conhecíamos foram realizadas na cidade de Caxias: Torneio de Inauguração da LCFM e o Torneio de Primeiro Aniversário.





















No ano de 1966, a Federação era presidida por Gilberto Ghizi, e esse por ter participado dos torneios acima mencionados, nos solicitou que promovêssemos o Campeonato Estadual. Aceitamos, com a condição de podermos fazer os convites para as demais agremiações. E, assim, participaram do campeonato as cidades de Porto Alegre, Rio Grande, Arroio Grande, Rosário do Sul, São Leopoldo e Caxias do Sul.

O campeão desse ano foi Carlos Saraiva, que representava o Internacional. Na noite anterior ao início do certame foi apresentado o anteprojeto da Regra Nacional, que seria apresentada na Bahia no mês seguinte, e que deu origem à nossa Regra Brasileira. Estiveram presentes Paulo Borges, Carlos Saraiva, Sérgio Duro, Fausto Borges, Clair Marques, além de Gilberto Ghizi e este que escreve essa crônica.

A intenção era a de promover o esporte, realizar campeonatos a nível nacional, conseguir juntar os botonistas de todo o país em torno de uma idéia de unificação, o que infelizmente jamais será conseguido em virtude da diversidade de regras disputadas. O resultado desse trabalho esbarrou em interesses comerciais que envolviam o senhor Lenine Macedo de Souza, proprietário da empresa que fabricava botões Lione, bolinhas, mesas e goleiras. Essa foi a razão da desunião que gerou praticamente uma guerra de botonistas porto-alegrenses contra os caxienses. A idéia que saiu vencedora foi a da nova regra, visto que iniciamos a participar de torneios e campeonatos em diversos pontos do país, desde então.

Campeões gaúchos na Regra Gaúcha




















Em janeiro de 2010, recebi do amigo Edú Caxias a relação de campeões da Regra Gaúcha que lograram escrever seu nome no rol dos grandes vencedores:

1962 – Lenine Macedo de Souza
1963 – José Androvani
1964 – Paulo Borges
1965 – Paulo Borges
1966 – Carlos Saraiva
1967 – Clair Marques/ Enio Vogues
1968 – Sérgio Duro
1969 – Jorge Mello
1970 – Julio Cantori
1971 – Antonio Azevedo
1972 – Claudio Schemes
1973 – Pedro Cruz
1974 – Pedro Cruz
De 1975 até 1996 não foram localizados registros da realização de Campeonatos Estaduais da Regra Gaúcha, levando a crer que não ocorreram.
1997 – Clóvis Pavão
1998 – Vinicius Bueno
1999 – Clademir Brazeiro
2000 – Jefferson Riffel (Cabelo)
2001 – Josias Guedes
2002 – Vinicius Bueno
2003 – Ricardo Bernardes
2004 –Eduardo Orci
2005 – Eduardo Orci
2006 – Eduardo Orci
2007 – Julio Costa
2008 – Vinicius Bueno
2009 – Thiago Leão

Indiscutivelmente a Regra Gaúcha, que também é mãe da Regra Brasileira, foi beneficiada com a criação desta, pois de uma única promoção dos primeiros anos, passou a contar com um calendário amplo, como: Aniversário de Porto Alegre, Copa Farroupilha (Santa Maria), Copa Amizade (Charqueadas), Copa Rio Grande do Sul – (União - Porto Alegre) e tantas outras realizações que deram um alento no engrandecimento dessa bonita modalidade de jogo. O grande impulso verificou-se com a adesão do Bazar Mimo, que nos anos noventa assume e realiza campeonatos concorridos e mais amplos, culminando com a fundação da Liga Gaucha, a qual coordena desde então.

Antes de 1970, o Rio Grande do Sul tentou promover um Campeonato Brasileiro

Os jornais antigos não deixam de cumprir sua missão. A Folha Esportiva, de dezembro de 1962, publicou e eu reproduzo integralmente: Gaúchos sozinhos no Brasileiro de Football de Mesa.

A Federação Rio Grandense de Football de Mesa tinha marcado para amanhã, na sede do Aeroclube do Rio Grande do Sul, av. Borges de Medeiros, 901, com início às 14 horas, o primeiro certame nacional do referido esporte. Mas, como a Federação Paulista informou por telegrama que não se fará representar e como a Federação Mineira até o momento de encerrarmos o nosso expediente não havia mandado confirmação da participação dos seus representantes, a FRGFM fará, na tarde de amanhã, apenas um torneio de encerramento do ano esportivo, com a participação dos disputantes do campeonato estadual, efetuado domingo último, e, às 18 horas procederá à entrega dos prêmios do certame brasileiro, aos vencedores do estadual, uma vez que os outros estados, por falta de comparecimento perderão por WO.

A FRGFM convoca, por nosso intermédio, os representantes do interior, que possam comparecer novamente na Capital, amanhã, a fim de receberem os títulos de campeões brasileiros e disputarem, durante a tarde, o torneio de despedida do ano de 1962.

Os prêmios ofertados para o certame brasileiro o foram exclusivamente pela Metalúrgica Abramo Eberle, de Caxias do Sul, além das bolsas de estudos no Instituto de Idiomas Yazigi.

Nesta oportunidade, o presidente Lenine Macedo de Souza fará a sua despedida do football de mesa, uma vez que somente voltará a participar de certames quando não mais for presidente da mater do botão.

Um depoimento importante de um campeão gaúcho




















Clair Marques, campeão em 1967, juntamente com Ênio Voges, publicado no Blog da AFUMECA – Associação de Futebol de Mesa de Cascavel, reportou-se à forma impositiva do presidente Lenine Macedo de Souza no tocante a utilização dos botões:

“Nesse campeonato em que terminamos empatados em pontos, eu e o Ênio Voges fomos declarados campeões. Foi um campeonato estadual realizado em Rio Grande, no Esporte Clube União Fabril, clube que ficava localizado em frente ao portão lateral  do cemitério de Rio Grande e já não existe mais. Eu estava na minha casa, já achando que o Lenine e os seus convidados não viriam mais, quando escutei o som de fogos de artifícios. Fui olhar no portão e estavam se dirigindo para a minha casa, num comboio de cinco ou seis carros e uma Kombi, com bandeiras da FRGFM e cartazes alusivos ao Campeonato Estadual de Futebol de Mesa, que seria disputado na cidade. Juntamos o pessoal de Rio Grande, demais convidados e  começamos a disputa do estadual. A finalidade maior desse campeonato estadual, descobri posteriormente, era promover os novos botões plásticos “LIONE” da fábrica de Lenine Macedo de Souza. Cada participante do campeonato tinha que retirar cinco dos botões de galalite de seu time e, obrigatoriamente, incluir no seu time cinco botões da marca “LIONE”. Esse detalhe o Lenine não tinha comunicado a ninguém de Rio Grande”. (Clair Marques).

Conforme é salientado no mesmo Blog: Lenine, numa atitude de desespero, chegou a obrigar os técnicos das associações filiadas à Federação Riograndense de Futebol de Mesa, a utilizarem 50% de botões LIONE em seus times, em competições oficiais. Esta atitude abalou a relação de Lenine com a grande maioria dos botonistas filiados. Com a sua transferência para o Paraná, nos anos seguintes a fábrica foi desativada e a FRGFM teve continuidade com outros presidentes, que revogaram a clausula que obrigava a utilização dos botões LIONE.

São fatos que aconteceram, mas jamais poderá ser contestado o pioneirismo de Lenine Macedo de Souza, no tocante a fundação da primeira Federação de Futebol de Mesa do país. Pena, foi a sua intransigência no sentido de uma união entre botonistas, persistindo sempre com a sua idéia original de a Regra Gaúcha ser reconhecida nacionalmente. Até hoje, não há unanimidade entre os que a praticam, pois dele já surgiram variantes que provocaram rupturas entre botonistas porto-alegrenses.

Um comentário:

lhroza disse...

LH.ROZA...
Como sempre,grande narrativa de mais uma pagina da história do FUTMESA.
Ficamos no aguardo da próxima "coluna".
Um forte abraço meu AMIGO