terça-feira, 4 de junho de 2013

BATE BOLA com Sambaquy




















Uma entrevista especial

Em 26 de fevereiro de 2008 recebi de um botonista de Itajaí uma entrevista realizada com um pessoal especial, muito importante num período anterior à implantação de botões de acrílico na regra de 12 toques (paulista). Era entrevistado Lúcio Brianezi, filho do fundador da primeira fábrica de botões em São Paulo. Na introdução da entrevista, há uma explicação de como funcionava o futebol de mesa naquela época. Por achar muito oportuna, transmito, na íntegra para conhecimento de todos.

Histórico

A criança era a própria federação. Comprar um novo time era como ter um novo filiado à sua entidade, o que lhe permitia incrementar ainda mais as competições e torná-las mais charmosas. E tudo isso “de verdade” sem uso da realidade virtual para potencializar a imaginação. Durante a semana, cada um fazia seu campeonato interno, mas era possível, nos fins-de-semana juntar a garotada para, cada um com seu melhor time, organizar uma espécie de “Liga dos Campeões”. Jogar futebol de botão era como levar o mundo do futebol para a casa de cada um.

Nesse universo, um dos destaques para os “mortais” que não tinham condições de comprar botões profissionais eram os times Brianezi. Feitos em acetato – depois com celulóide -, eram muito mais macios de se jogar que os demais, permitindo maior controle a cada palhetada. Além disso, o botão era lixado à mão, para ter altura variável com a função tática que o jogador tinha na equipe (zagueiros mais altos, atacantes mais baixos). Vencer ou perder dependia da habilidade do botonista, mas ter um time melhor era como contar com um Roman Abramovich para contratar reforços que os adversários não teriam.

Nos últimos anos a Brianezi entrou em crise, como jogo de botão em si, e acabou encerrando a produção de times. Hoje os botões de empresas são vendidos como relíquias, a preços muito acima do que eram encontrados nas décadas de 1980 e 1990 em lojas de esporte. Para contar um pouco da história da fábrica que se tornou referência em futebol de botões para uma geração, o Ubiratan Leal entrevistou Lúcio Brianezi, diretor da empresa e filho de PAULO Brianezi, criador da marca.

O empresário, que hoje trabalha no setor de cosméticos, não esconde sua tristeza ao comentar o processo que levou a Brianezi a encerrar a produção dos times de botão. “Depois de tanta briga, fiquei até um pouco desgostoso com essa história de futebol de botão. Até tem uma mesa na garagem de minha casa, mas está parada há anos”, conta. Um cenário muito diferente de sua juventude, quando formou, ao lado do pai, um clube apenas para jogar botão com amigos.

Para Brianezi, os motivos que levaram à decadência do futebol de botão são bem fáceis de identificar. A concorrência com brinquedos eletrônicos – notadamente videogames – teria tirado o interesse das novas gerações e interromperam a passagem dessa cultura de pai para filho. Além disso, as brigas entre clubes e fabricantes de botão teriam tornado a produção de times de botão pouco atraentes, pois se tornou uma medida de risco.

Entrevista completa

Veja abaixo os principais trechos dessa entrevista, concedida para a elaboração de uma reportagem sobre futebol de mesa.

P. Como começou o envolvimento da família Brianezi com o futebol de botão?

A fábrica foi fundada pelo meu pai. Ele tinha uma loja e, como gostava muito de botão, começou a fazer os times nos fundos do estabelecimento para vender. Isso foi nos anos 1960. Em 1973, ele registrou a fábrica de botões e a tocou até morrer, em 1978. Depois, eu assumi o negócio até hoje.

P. A empresa não fechou?

Tecnicamente, não, mas a produção está parada desde dezembro de 2001. Eu ainda não dei baixa dela na prefeitura e, oficialmente, ela ainda existe. Até tenho o maquinário aqui no galpão e poderia voltar a fazê-lo se fosse o caso.

P. O que aconteceu?

A partir da década passada houve uma pressão muito grande de vários escritórios de advocacia, que falavam com os clubes e queriam impedir que fizéssemos botões. Diziam que era pirataria, coisa e tal. Eu não era contra conversar com eles para a gente regularizar tudo, por que nunca quis fazer nada ilegalmente. O problema é que os escritórios exigiam um valor irreal. Acho que nem os clubes sabiam que pediam tanto em nome deles. Para se ter uma idéia, o direito de produzir times apenas dos cinco grandes e São Paulo era um valor maior do que o faturamento da empresa. Assim, fiz um acordo com eles e parei de fazer times brasileiros.

P.Outras empresas tiveram o mesmo problema?

Só as maiores conseguiram pagar. Mas eles tinham uma produção muito maior e não viviam só de botão, lançavam outras coisas com os distintivos dos clubes e pagavam o pacote. Assim podiam diluir o custo dos royalties em outros produtos ligados ao futebol.

P. De que modo a interrupção da fabricação de clubes brasileiros atrapalhou esse mercado?
Foi algo muito forte, porque os times nacionais é que mexiam com a paixão do torcedor. Os botões que mais vendiam eram os dos grandes clubes e o da seleção. Sem fazer esses times ficou muito mais difícil.

P. Seria possível manter esse mercado vivo se os clubes incentivassem, entrando em contato com as fábricas e lançando botões oficiais de cada um?

Claro. Eu nunca considerei fazer botão pirataria porque não concorria com nenhum artigo oficial licenciado pelo clube. Para mim, eu via como uma promoção do clube. Mas, se queriam licenciar, tudo bem, eu topava. Se fosse para lançar uma linha de times “oficiais do clube”, eu também aceitaria conversar, desde que as condições fossem viáveis. Isso chegou a ocorrer uma vez com a gente e o Palmeiras.

P. Como foi isso?

Apareceu um advogado na fábrica com um mandato de busca e apreensão, querendo ver se estávamos fazendo botões do Palmeiras. Ele não achou nada e acabou me chamando para negociar, propondo um acordo. Descobri que um dos sócios desse escritório era diretor do Palmeiras e aficionado por futebol de botão. Ele propôs que a gente voltasse a produzir os botões do Palmeiras e, em troca, o clube levaria 7% do faturamento com a venda desses times. Aceitei e fizemos um acordo bem legal, com o botão imitando a camisa do jogo, até com o nome do patrocinador da época e tudo. Ficamos um ano assim, mas acabamos parando a produção assim mesmo.

P. Por quê?

Porque a gente tinha os botões do Palmeiras, mas não tínhamos dos outros clubes. O garoto palmeirense compra o botão do Palmeiras, mas ele quer do Corinthians ou do São Paulo para jogar contra. Além disso, a tecnologia já estava bastante avançada e a garotada já estava com mania de brinquedos eletrônicos. Jogar futebol de botão foi uma coisa que passou de geração para geração. A entrada dos videogames interrompeu esse processo.

P. Além de produzir, seu pai também lhe ensinou a jogar?

Ah, eu sempre joguei. Minha vida toda. Quando meu pai era vivo, ele até criou o Grêmio Recreativo Brianezi, um clube para as pessoas jogarem. Os sócios tinham de pagar uma mensalidade, que era doada para a AACD, para fazer com que ninguém faltasse aos encontros. Era algo que a gente levava a sério.

P. Você ainda Joga?

Não jogo desde que a fábrica parou a produção, em dezembro de 2001. Depois de tanta briga, tanto advogado nos ameaçando, fiquei chateado e até um pouco desgostoso com essa história de futebol de botão. Até há uma mesa na minha casa, mas está parada há anos.

P. Seus filhos ao menos jogam?

Aí é que está. Só tive duas meninas. Até joguei um pouco com elas, mas é claro que elas preferiram brincar de outras coisas.

P. A impressão geral entre botonistas é que há cada vez menos praticantes desse jogo. Você também percebe isso?

Eu me afastei bastante desse mundo e até estou desatualizado em relação à qualidade dos times de hoje. Mas, eu percebo que não se encontram mais botões com facilidade. Eles sempre foram vendidos em lojas de esportes, mas elas também ficaram com medo por causa das apreensões e multas por venderem produtos considerados piratas. Assim, ou deixaram de vender ou deixam escondidos na loja.

P. De que forma você, como botonista e ex-fabricante de botões, vê esse processo?

Ah, é um pouco triste, por que é uma coisa que está muito ligada à minha família. Hoje, só umas poucas pessoas jogam, aqueles que são fanáticos mesmo. O pessoal não percebe que o futebol de botão é algo saudável, que jogar uma partida serve como higiene mental, que pode virar lazer para colecionador, porque é possível colecionar times ou tipos de botões diferentes.

P. Você ainda tem algum time da Brianezi com você?

Não tenho nenhum, acredita? Até sei que hoje virou relíquia, e que as pessoas vendem pela Internet por preços bem altos, mas não tenho nenhum.


Futebol de Mesa no Grêmio

Folheando o material que fala sobre futebol de mesa, encontrei na página do Grêmio, com data de 04 de novembro de 2007 o histórico do então Departamento de Futebol de Mesa.

Da década de sessenta buscamos noticias sobre o futebol de botão na Revista do Grêmio, ano V, número 30, referente aos meses de novembro e dezembro, onde Hugo Rosa, representando o tricolor foi o primeiro campeão de uma competição com 88 botonistas, derrotando na final o colorado Luiz Santos, numa disputa “deveras sensacional”, conforme descrição da Folha da Tarde, na ocasião.

Em 1961, ano VI, a Revista do Grêmio, número 36, também referente aos meses de novembro e dezembro, apresenta dados completos sobre a fundação da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, da qual o Tricolor é um dos fundadores. Entre várias competições realizadas naquele ano, destacamos o campeão invicto pelo Grêmio, Lenine Macedo de Souza, e vice Sérgio Duro (Grêmio).

Em 1983, aproximadamente 35 pessoas praticavam o futebol de mesa, nas dependências do clube, coordenados pelo botonista Luiz Alberto Rolim. A regra básica era de um toque só, e os botonistas dividiam-se entre a primeira e segunda divisão, de acordo com o ranking da época. Por divergências, o Departamento acabou fechado, só vindo a ser reaberto em 1992, sob a coordenação de Renato José Scheirr. Nessa fase os jogos se desenvolveram em uma sala localizada abaixo das cadeiras cativas.

Em 1994, Renato passou a contar com a acessoria direta de Airton Romancini, e os jogos passaram a uma sala nas sociais do Olímpico, parte do antigo quadro social, onde hoje está a portaria remodelada. Daí, o Departamento foi para o Ginásio Davi Gusmão, onde se realizou o 1º Campeonato Estadual de Futebol de Mesa, individual e por equipes.

Esse evento contou com a participação de 90 botonistas do Estado, pré selecionados em eliminatórias nos seus clubes de origem. Por necessidade do Clube, o Departamento passou a funcionar precariamente, junto ao Departamento de Bolão, onde tiveram dificuldade em ajustar os objetivos, sendo então suspensas as atividades em 22 de setembro de 1998.

Como curiosidade e procurando homenagear botonistas da velha guarda, apresentamos o ranking acumulado de 83 a 87, do 1º ao 20º lugar:

Tubino - Rio Grande
      Oscar -  Sport
      Marcus - Flamengo
       Luiz - Pelotas
      Baltazar - Cassino
      Rolim - Beatlestones
       Junior - Fluminense
      Paulo - Serpentário
      Gerson - Scorpion
      Pedro - São Paulo
       Taborda - Holanda
       Alpheu - Benfica
       Chico - Atlético
       Helio - Santos
           Eron - Rubro Negro
      Sergio - Farroupilha
       Romário - Internazionale
      Alcides - Palmeiras
       Ivoney - Invictus Escolar
       Fábio - Rio Branco

A publicação da época no site do Grêmio contando a história do Futmesa no clube foi iniciativa da Direção abaixo:

Departamento de Futebol de Mesa do Grêmio
Diretor Geral: Carlos Roberto Foschiera
Coordenador Geral: Roberto Bopp
Diretores Técnicos: Rafael Hoerbe Bacchin (Regra Brasileira liso)
                                Francisco Fábio Di Leone (Regra Brasileiro cavado)
Coordenador Financeiro: Saul Fernando Martini
Coordenador Social: Antonio Gilberto Schmitz de Oliveira


Até a próxima quinzena.

Um comentário:

lhroza disse...

LH.ROZA...
Nossas saudações pela bela materia apresentada.
1 forte abraço ao AC.SAMBAQUY
Até +