Um acidente paralelo ao futebol de
mesa
Em 1967, na linda Salvador,
empenhados na criação da regra Brasileira, Gilberto Ghizi e eu passávamos o
dia, período em que a maioria dos envolvidos trabalhava, ou jogando futebol de
mesa ou passeando pelas praias. Nos sábados, pela manhã, sempre havia a reunião
dos botonistas para jogar um baba (para nós seria uma pelada) na praia.
Naquela época, praticava futebol
e futsal em Caxias. Como a cidade serrana dista das praias gaúchas, raramente
jogávamos sem calçados. Mas, na Bahia tinha de ser descalço mesmo. E como Ghizi
sempre dizia, profeticamente: GAUCHO NÃO PERDE PARA BAIANO, topamos o desafio.
Os times escolhidos e colocados para o inicio da partida. Oldemar e Ademar eram
nossos adversários. Aliás, Oldemar atuava de goleiro e levava camisa, joelheira
e pulava feito um gato para agarrar todas as bolas em sua meta. Ademar jogava
na meia cancha e jogava muito.
Os demais baianos que compunham
os dois times era todos botonistas. O jogo estava agradável, até que sobra uma
bola para mim. Avanço em direção ao gol defendido pelo Oldemar. Em minha
direção veio o Ademar Carvalho, eterno jogador de praia, acostumado com aquela
areia fofa de Salvador. Pensei: dou um toque e pego a bola do outro lado...
mas, não deu tempo. Ademar pulou com os dois pés (estilo Zé Roberto no lateral
do Botafogo) num tremendo carrinho. Arrastou meu pé esquerdo, bola, areia, para
longe de onde eu estava. Na hora tudo ficou escuro, e uma dor lancinante. O
jogo seguia, pois não tinha árbitro.
Levantei-me e fui caminhando em
direção ao mar. Só que as pegadas estavam ficando tintas de sangue e isso
assustou os demais, que acabaram parando o jogo. Quando cheguei ao mar e
coloquei o pé na água, o mar se tingiu de vermelho.
Resultado da brincadeira: três dedos rasgados, ficando um enorme corte. Levaram-me a um posto médico, onde o plantonista se encarregou de costurar meu pé. Recomendou que me fosse ministrada uma vacina antitetânica, e só poderia tomá-la depois de seis horas. Mais uma via sacra para encontrar um local onde ela fosse aplicada.
Com isso, meus últimos dias em
Salvador foram longe das mesas, pois não podia ficar muito tempo em pé, devido
à dor e tentando evitar que o inchaço impedisse o meu retorno.
Como viajaríamos de ônibus,
conseguiram o primeiro banco, pois assim poderia esticar a perna e descansar o
pé. Mas, com o calor infernal e a duração da viagem até o Rio de Janeiro, o pé
ficou como se fosse um bolo recém tirado do forno. Inchando dessa maneira,
alguns pontos foram sendo rompidos.
No Rio, ao encontrarmos um Posto
que nos atendesse, quase todos os pontos haviam sido rompidos. Mas, um bom
curativo, ajudaria a fazer o restante da viagem.
Dirigimos-nos para a Rodoviária
para comprar as passagens. Infelizmente uma queda de barreira suspendera as
viagens, até que tudo fosse restabelecido. Aconselharam-nos, devido à urgência
em retornar, que fossemos para a central do Brasil, onde poderíamos seguir de
trem para São Paulo. Filas enormes. Foi então que a sorte bateu à nossa porta.
Atrás de nós abriu-se um guichê que anunciava que estariam vendendo as
passagens para a capital paulista. Fomos os primeiros a comprar. Sairia dentro
de duas horas. Apanhamos as nossas bagagens no hotel e conseguimos chegar a
tempo para essa viagem, de onde, no dia seguinte retornamos ao Rio Grande do
Sul.
O resultado daquela “baba” na
praia deixou meus dedos mais esticados no pé esquerdo, mas, depois de tanto
tempo, não fazem mais diferença. O pior foi à gozação dos botonistas caxienses
que diziam que eu havia chutado a mesa por haver perdido um gol, quase feito...
1973 – O grande ano
da Regra Brasileira no Rio Grande do Sul
Apesar de havermos iniciado a jogar na Regra Brasileira em 1967, o ano de 1973 foi o divisor de águas para a sua completa implantação em território gaúcho.
Antes de 1973, o pessoal de
Caxias fez várias incursões por diversas cidades e em algumas ocasiões
recebemos visitas de interessados em conhecer a nova modalidade. Dentre os que
nos visitaram, destaco: J.
A. Chiachio de Arroio Grande, Carlos A. Domingues de
Lagoa Vermelha, Valdir Szeckir de Porto Alegre, J. Pedro Cavalli de
Veranópolis, Fausto Borges de São Leopoldo, Raul Machado Ferraz de Campos de
Giruá, além de amigos que fizemos em nossas viagens, como Breno Mussi, Claudio
Mussi, Rua Goulart e J. Nascimento de Canguçú.
Voltando ao ano de 1973, Vicente
Sacco Netto, que fora transferido do Banco do Brasil de Caxias para Canguçú,
além de levar o futebol de mesa, criou um clima todo especial para a realização
do Primeiro Campeonato Estadual, na Regra Brasileira.
Foi nessa ocasião que o embrião da
Federação gaúcha foi criado. Por ainda existir a Federação Riograndense de
Futebol de Mesa, que promovia a Regra Gaúcha, sugerimos a criação de uma União
de Ligas que praticavam a Regra Brasileira, a qual teria a incumbência de
difundir e organizar os referidos campeonatos estaduais. Aprovada, sua sede foi
para Caxias do Sul, onde Marcos Zeni seria o responsável pela organização de
estatutos e posteriormente promoções que fizessem o futebol de mesa ganhar
corpo e força.
A partir de 1973, ninguém mais
segurou o nosso esporte e vemos hoje, com alegria e muita satisfação, nosso
esporte ganhar noticiários diários, em diversos blogs, mostrando a pujança que
atingiu, tornando-se um esporte popular e benquisto por todos os seus
praticantes.
Essa é a grande vitória que posso
ostentar em minha jornada. O sonho que foi alimentado pelo meu amigo Ghizi e
por mim, tornou-se uma grande realidade e a cada dia que passa torna-se mais
envolvente e carismático.
4 comentários:
Amigo Sambaquy:
Parabéns pela memória, já tem anos que observo que excelente memória tens ao ler os seus textos.Eu conheço muito menino de 25 anos que lembra muito mal de fatos passados. Gente que às vezes eu pergunto como foi tal evento que ele foi e a pessoa me conta muito mal. Desejo-lhe muita saúde e felicidades! Um abraço,
Amigo Marcio,
Agradeço as suas palavras e digo que a memória tem de ser sempre ativada com exercícios contúnuos. Por essa razão e anotando os fatos, podemos com um toque relembrar e reviver fatos distantes acontecidos em nossa vida. Há muitos que gosto de recordar, mas há também os desagradáveis. Como o foram na época evito relembrá-los, mas nunca os esqueço. Um abraço.
Sambaquy: no Facebook, quando vi essa foto postada pelo Zllber, tratei de identificar os que nela aparecem. Acho que a maioria eu consegui identificar. Outros (entre eles tu!) não fui capaz. Acho que só tu mesmo (e talvez o Figueira) podes nos esclarecer. É um desafio ao amigo...
Aldyr,
Por ocasião da foto eu não estava com eles. Estava em Rio Grande passeando. Vou tentar enviar a você a relação daqueles que identifiquei, só necessito de seu e-mail. O meu é asambaquy@terra.com.br.
Abraço.
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