sábado, 12 de janeiro de 2013

BATE BOLA COM SAMBAQUY




















Retrospectiva

De uma maneira diferente do que está sendo feito por todos os blogs de futebol de mesa, e, como eu próprio fiz no último Bate Bola, não irei falar do ano que findou.

Vou me reportar a 47 anos passados, quando tudo iniciou. Apesar de já haver em nosso estado uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa funcionando na Regra Gaúcha, o movimento da Regra Brasileira foi de um pioneirismo extraordinário. Trouxemos uma regra que acabara de sair do forno, na cidade de Salvador e implantamos em nosso solo uma maneira muito diferente de praticar o esporte do quadrilátero de madeira.

Nada existia por aqui. As mesas tiveram de ser construídas. Lembro ainda que os baianos usavam as mesas na cor verde, pintadas com tinta Parker, e que deixavam as mãos sempre marcadas, pois a tinta aderia ao suor. Fabricávamos da mesma maneira. As marcações eram feitas com estiletes que recortavam as linhas, retirando uma camada da madeira que depois era preenchida com lápis de cera branco. Ficavam lindas. Na linha central haviam duas paletas fixadas na lateral e que findavam no encontro com a linha lateral. Serviam para determinar se a bolinha saíra no campo de defesa ou no de ataque, determinando ou não os dois toques.

Os times tinham de vir da Bahia, fabricados pelo seu Aurélio, Miltinho ou José Castro Sturaro. Depois surgiram os fabricantes de Sergipe. Mas sempre nordestinos e por essa razão as encomendas tinham de seguir via aérea e voltavam via Varig.

Naqueles primeiros anos as competições eram reduzidas, pois a intenção principal era a divulgação da Regra Brasileira. De Caxias viajamos para muitos lugares no nosso estado e em nossa cidade recebemos visitas de botonistas interessados de diversas regiões.

A regra foi criada para ser jogada com botões lisos. Mas, gaúchos e cariocas jogavam com botões cavados. Aos poucos foram modificando os botões. Primeiro os de defesa, que conseguiam realizar coberturas incríveis, e depois todo o time era cavado. O terceiro campeonato brasileiro, realizado em 1972, na Cidade de Caxias do Sul apresentou o primeiro campeão brasileiro com essas características. Antonio Carlos Martins tinha seus botões cavados e lisos. Marcar gol em seu Barbosa, o eterno goleiro vascaíno, era a coisa mais difícil que poderia acontecer. Se ele marcasse um gol, fatalmente o resultado final da partida seria 1 x 0, pois ele não deixava ninguém mais jogar.

E isso perdurou até 1978, quando em deliberação no Congresso de Abertura do Campeonato Brasileiro realizado no Rio de Janeiro, foram admitidas as duas modalidades, mas em um único campeonato. Isso conseguiu enfraquecer a modalidade liso, pois os gaúchos e cariocas começaram a pontificar e vencer inúmeros campeonatos brasileiros, pois tinham a incrível habilidade de bloquear as iniciativas conquistadas à duras penas pelos lisos.

Em 1991, as duas modalidades foram separadas, originando então as disputas de dois campeonatos brasileiros da mesma regra em modalidades diferentes.

Desde 1967, ano da criação da Regra, num trabalho realizado por baianos e gaúchos, de oito até 23 de janeiro, até 2013, quando estamos iniciando o ano em que teremos o nosso 40º Campeonato Brasileiro, se passaram 47 anos. Quantas pessoas tomaram conhecimento dessa modalidade de jogar futebol de mesa nesse tempo? Quantas cidades criaram associações no sentido de reunirem os seus botonistas e praticarem esse esporte tão salutar? Quantas amizades foram sendo construídas nesses anos todos.

Estamos quase chegando a meio século de Regra Brasileira. Muita coisa foi modificada da maneira original de jogar, mas sempre procurando adaptar-se aos acertos que eram analisados, agora por todos os botonistas que a praticam. Além disso, quantas empresas paralelas foram criadas em torno do nosso esporte. Pessoas que passaram a ganhar suas vidas fazendo botões, goleiros, mesas, bolinhas, réguas, fichas, maletas, adereços, troféus.

A própria comunicação, que no início era através de cartas, passou, nos anos oitenta a ser feita através de boletins mimeografados ou xerocados e distribuídos pelo Correio, para os mais diversos blogs que comunicam no mesmo instante da competição o que está acontecendo. Esse tipo de inovação já mostrou avanços fabulosos, como a idéia de Ednei Torresini que conseguiu transmitir diretamente do salão de jogos, partidas, entrevistas e comentários para todos os interessados. E o amigo Breno que aperfeiçoou tudo isso, fazendo com que pudéssemos acompanhar competições em qualquer lugar do Brasil, usando a Internet.

Nessa retrospectiva de quarenta e sete anos, devo atestar ainda mais o pioneirismo da Regra Brasileira, pois o nosso primeiro campeonato nacional foi realizado em 1970, na cidade de Salvador, enquanto a modalidade de Três Toques realizou o seu primeiro em 1981, na cidade de Brasília, e a modalidade de Doze Toques em 1989, no Indiano em São Paulo.

A Regra Doze Toques conseguiu realizar campeonatos em São Paulo, Paraná, duas vezes em Santa Catarina, uma vez no Rio de Janeiro e outra em Minas Gerais.

A Regra de Três Toques realizou seus campeonatos em Brasília, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A Regra Brasileira realizou campeonatos na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Além do pioneirismo, o nosso envolvimento é abrangente, pois não estamos concentrados em poucos lugares. Só espero que o nosso presidente Robson Marfa consiga dar o devido valor à nossa modalidade, inserindo-a em Campeonatos Mundiais, pois com a aproximação com o leste europeu, existe alguma semelhança com o Sectorball húngaro. Quem sabe ainda não possamos ver um campeonato mundial realizado na Regra Brasileira.

Pioneirismo em Caxias do Sul

Como já escrevi diversas vezes, a primeira entidade a manter um campeonato regular na cidade de Caxias foi a Associação Atlética Banco do Brasil. (AABB). O campeonato foi iniciado em 1963, dando origem a que, alguns meses depois iniciássemos o campeonato caxiense da modalidade.

Os primeiros campeonatos realizados foram na Regra Gaúcha. De 1963 até 1966 somente jogávamos nessa regra.

Em 1967 adotamos a Regra Brasileira e até os dias atuais os campeonatos realizados são praticados nessa maneira.

Retroagindo aos campeonatos realizados pela entidade que iniciou de maneira organizada o futebol de mesa em Caxias, damos a sequência dos campeões abebeanos:

1963 – Adauto Celso Sambaquy – G. E. Flamengo
1964 – Adauto Celso Sambaquy – G. E. Flamengo
1965 – Roberto Cagliari Grazziotin – C. E. Pradense
1966 – Vicente Sacco Netto – São Paulo F. C.
1967 – Sylvio Puccinelli – S. C. Internacional
1968 – Sylvio Puccinelli – S. C. Internacional
1969 – Rubens Constantino Schumacher – Fluminense F. C.
1970 – Walmor da Silva Medeiros – S. C. Corinthians Paulista

A partir de 1971, a Liga Caxiense alugou uma sala no centro da cidade e a grande maioria dos botonistas da AABB passou a jogar somente o caxiense. Com isso esvaziou-se o movimento na entidade bancária e os campeonatos deixaram de ser disputados, até que Enio Durante assume o departamento em 2010 e restaura o ciclo de certames.

Certamente o campeonato da AABB era o mais famoso e valorizado de todos os disputados naquela época na cidade. Foi um grande centro do futebol de mesa em seus primeiros anos, sendo que o Campeonato Brasileiro de 1972 foi disputado em seu ginásio, tendo em seu encerramento a presença do Prefeito Municipal Victório Trez, do Vice Prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho, presidente da Câmara de Vereadores Ilson Kayser, o Gerente do Banco do Brasil, o presidente da AABB e o presidente do Conselho Municipal de Desportos de Caxias, Mário de Sá Mourão. Foi uma festa onde todos os participantes foram premiados com um troféu relativo ao acontecimento, oferta do CMD de Caxias.

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