Retrospectiva
De uma maneira diferente do que está sendo
feito por todos os blogs de futebol de mesa, e, como eu próprio fiz no último
Bate Bola, não irei falar do ano que findou.
Vou me reportar a 47 anos
passados, quando tudo iniciou. Apesar de já haver em nosso estado uma Federação
Riograndense de Futebol de Mesa funcionando na Regra Gaúcha, o movimento da
Regra Brasileira foi de um pioneirismo extraordinário. Trouxemos uma regra que
acabara de sair do forno, na cidade de Salvador e implantamos em nosso solo uma
maneira muito diferente de praticar o esporte do quadrilátero de madeira.
Nada existia por aqui. As mesas
tiveram de ser construídas. Lembro ainda que os baianos usavam as mesas na cor
verde, pintadas com tinta Parker, e que deixavam as mãos sempre marcadas, pois
a tinta aderia ao suor. Fabricávamos da mesma maneira. As marcações eram feitas
com estiletes que recortavam as linhas, retirando uma camada da madeira que
depois era preenchida com lápis de cera branco. Ficavam lindas. Na linha
central haviam duas paletas fixadas na lateral e que findavam no encontro com a
linha lateral. Serviam para determinar se a bolinha saíra no campo de defesa ou
no de ataque, determinando ou não os dois toques.
Os times tinham de vir da Bahia,
fabricados pelo seu Aurélio, Miltinho ou José Castro Sturaro. Depois surgiram
os fabricantes de Sergipe. Mas sempre nordestinos e por essa razão as
encomendas tinham de seguir via aérea e voltavam via Varig.
Naqueles primeiros anos as
competições eram reduzidas, pois a intenção principal era a divulgação da Regra
Brasileira. De Caxias viajamos para muitos lugares no nosso estado e em nossa
cidade recebemos visitas de botonistas interessados de diversas regiões.
A regra foi criada para ser
jogada com botões lisos. Mas, gaúchos e cariocas jogavam com botões cavados.
Aos poucos foram modificando os botões. Primeiro os de defesa, que conseguiam
realizar coberturas incríveis, e depois todo o time era cavado. O terceiro
campeonato brasileiro, realizado em 1972, na Cidade de Caxias do Sul apresentou
o primeiro campeão brasileiro com essas características. Antonio Carlos Martins
tinha seus botões cavados e lisos. Marcar gol em seu Barbosa, o eterno goleiro
vascaíno, era a coisa mais difícil que poderia acontecer. Se ele marcasse um
gol, fatalmente o resultado final da partida seria 1 x 0, pois ele não deixava
ninguém mais jogar.
E isso perdurou até 1978, quando
em deliberação no Congresso de Abertura do Campeonato Brasileiro realizado no
Rio de Janeiro, foram admitidas as duas modalidades, mas em um único
campeonato. Isso conseguiu enfraquecer a modalidade liso, pois os gaúchos e
cariocas começaram a pontificar e vencer inúmeros campeonatos brasileiros, pois
tinham a incrível habilidade de bloquear as iniciativas conquistadas à duras
penas pelos lisos.
Em 1991, as duas modalidades
foram separadas, originando então as disputas de dois campeonatos brasileiros
da mesma regra em modalidades diferentes.
Desde 1967, ano da criação da
Regra, num trabalho realizado por baianos e gaúchos, de oito até 23 de janeiro,
até 2013, quando estamos iniciando o ano em que teremos o nosso 40º Campeonato
Brasileiro, se passaram 47 anos. Quantas pessoas tomaram conhecimento dessa
modalidade de jogar futebol de mesa nesse tempo? Quantas cidades criaram
associações no sentido de reunirem os seus botonistas e praticarem esse esporte
tão salutar? Quantas amizades foram sendo construídas nesses anos todos.
Estamos quase chegando a meio século
de Regra Brasileira. Muita coisa foi modificada da maneira original de jogar,
mas sempre procurando adaptar-se aos acertos que eram analisados, agora por
todos os botonistas que a praticam. Além disso, quantas empresas paralelas
foram criadas em torno do nosso esporte. Pessoas que passaram a ganhar suas
vidas fazendo botões, goleiros, mesas, bolinhas, réguas, fichas, maletas, adereços,
troféus.
A própria comunicação, que no
início era através de cartas, passou, nos anos oitenta a ser feita através de
boletins mimeografados ou xerocados e distribuídos pelo Correio, para os mais
diversos blogs que comunicam no mesmo instante da competição o que está
acontecendo. Esse tipo de inovação já mostrou avanços fabulosos, como a idéia
de Ednei Torresini que conseguiu transmitir diretamente do salão de jogos,
partidas, entrevistas e comentários para todos os interessados. E o amigo Breno
que aperfeiçoou tudo isso, fazendo com que pudéssemos acompanhar competições em
qualquer lugar do Brasil, usando a Internet.
Nessa retrospectiva de quarenta e
sete anos, devo atestar ainda mais o pioneirismo da Regra Brasileira, pois o
nosso primeiro campeonato nacional foi realizado em 1970, na cidade de Salvador,
enquanto a modalidade de Três Toques realizou o seu primeiro em 1981, na cidade
de Brasília, e a modalidade de Doze Toques em 1989, no Indiano em São Paulo.
A Regra Doze Toques conseguiu
realizar campeonatos em São Paulo, Paraná, duas vezes em Santa Catarina, uma vez
no Rio de Janeiro e outra em Minas Gerais.
A Regra de Três Toques realizou
seus campeonatos em Brasília, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A Regra Brasileira realizou
campeonatos na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito
Santo, Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Além do pioneirismo, o nosso envolvimento
é abrangente, pois não estamos concentrados em poucos lugares. Só espero que o
nosso presidente Robson Marfa consiga dar o devido valor à nossa modalidade,
inserindo-a em Campeonatos Mundiais, pois com a aproximação com o leste
europeu, existe alguma semelhança com o Sectorball húngaro. Quem sabe ainda não
possamos ver um campeonato mundial realizado na Regra Brasileira.
Pioneirismo em
Caxias do Sul
Como já escrevi diversas vezes, a
primeira entidade a manter um campeonato regular na cidade de Caxias foi a
Associação Atlética Banco do Brasil. (AABB). O campeonato foi iniciado em 1963,
dando origem a que, alguns meses depois iniciássemos o campeonato caxiense da
modalidade.
Os primeiros campeonatos
realizados foram na Regra Gaúcha. De 1963 até 1966 somente jogávamos nessa
regra.
Em 1967 adotamos a Regra
Brasileira e até os dias atuais os campeonatos realizados são praticados nessa
maneira.
Retroagindo aos campeonatos
realizados pela entidade que iniciou de maneira organizada o futebol de mesa em
Caxias, damos a sequência dos campeões abebeanos:
1963 – Adauto Celso Sambaquy – G.
E. Flamengo
1964 – Adauto Celso Sambaquy – G.
E. Flamengo
1965 – Roberto Cagliari
Grazziotin – C. E. Pradense
1966 – Vicente Sacco Netto – São
Paulo F. C.
1967 – Sylvio Puccinelli – S. C.
Internacional
1968 – Sylvio Puccinelli – S. C.
Internacional
1969 – Rubens Constantino
Schumacher – Fluminense F. C.
1970 – Walmor da Silva Medeiros –
S. C. Corinthians Paulista
A partir de 1971, a Liga Caxiense
alugou uma sala no centro da cidade e a grande maioria dos botonistas da AABB
passou a jogar somente o caxiense. Com isso esvaziou-se o movimento na entidade
bancária e os campeonatos deixaram de ser disputados, até que Enio Durante
assume o departamento em 2010 e restaura o ciclo de certames.
Certamente o campeonato da AABB
era o mais famoso e valorizado de todos os disputados naquela época na cidade.
Foi um grande centro do futebol de mesa em seus primeiros anos, sendo que o
Campeonato Brasileiro de 1972 foi disputado em seu ginásio, tendo em seu
encerramento a presença do Prefeito Municipal Victório Trez, do Vice Prefeito
Mansueto de Castro Serafini Filho, presidente da Câmara de Vereadores Ilson
Kayser, o Gerente do Banco do Brasil, o presidente da AABB e o presidente do
Conselho Municipal de Desportos de Caxias, Mário de Sá Mourão. Foi uma festa
onde todos os participantes foram premiados com um troféu relativo ao
acontecimento, oferta do CMD de Caxias.
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