quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CAMPEÃO DE TUDO

por Alex Degani




















Alles Blau?
Hoje é o "Dia Nacional dos Quadrinhos". Para comemorar, imaginem logo mais, no excelente campo de beach soccer da Arena, a torcida minoritária cantando "Até a Pré Nós Iremos!". Coincidência ou não, 30 de Janeiro também é marcado como o Dia da Saudade. Afinal, doze anos é ou não é tempo bastante para se ter saudade de um título?

Kiss
Está certo que o nome da Boate só me faz lembrar do Sandro Mazzochi. Mas, com a recente TRAGÉDIA - em caps lock - o certo é que 231 jovens subiram ao céu, enquanto 531 deputados e 81 senadores não descem ao inferno. Brasil brasileiro! Agora Basta! Estou cansado de ouvir falarem de fatalidades e afins. Uma coisa é certa, o cancelamento da rodada do gauchão foi favorável ao Dunga, pois assim o Inter não levou gol no final de semana. Triste realidade, até que mos provem o contrário.

Esta semana não tive muito tempo para rabiscar a Coluna porque, como realizei minha mudança para a nova morada, o tempo tornou-se exíguo. Foi cansativo passar todo o final de semana carregando troféus! Pela primeira vez, desejei ser o Carraro, ou o Pedrinho, ou o Gérson, ou o Azevedo...

A Irmã do...
Na ausência da bola rolando no gramado e na mesa, vamos a uma "história curta" do futmesa papareia...

Comecei no futmesa em 1994, e desde então escuto a antiga estória da "irmã de um botonista"... Aliás, sempre meticulosamente contada pelo encoleirado e/ou dominado (uma espécie de Daniel Pizzamiglio riograndino) Eduardo Santos, vulgo Duda.

O lance é que a dita cuja, na transição dos anos 80-90, gostava de lavar roupa só de calcinha. De corpo era perfeita, tão desejada quanto o futmesa plástico de Diógenes. Loira, não muito grande. Mas também não servia para miúda; não, miúda não era. Coxas fortes, isso se podia dizer. As coxas eram um predicado seu. Segundo o Duda, era gostosa pra c...alho!

Quanto às nádegas, redondas, cada gomo um hemisfério de bola de futsal. Corpo bem proporcionado tinha ela, com seios pequenos, empinados, e um rosto harmonioso, envolto por uma aragem de malícia que em nada lembrava o seu narigudo irmão, um cavador de marca maior. Para ser perfeita, só faltava ser tarada por botonista. As mulheres não transavam, naquele tempo. Não as que conhecíamos. Já ela transava. Infelizmente, não com nenhum de nós. Com os caras mais velhos, que não sabiam cavar nem chutar a gol...

Três ou quatro deles se reuniam, e logo a moça desabava no meio da conversa... Falavam dela com risos maliciosos e frases pela metade, falavam com lasciva satisfação, fazendo-nos, a nós, os bacuris, os pirralhos, os bostinhas, os cavadores, sonhar.

Nós éramos muito coesos, os bostinhas. Um time de puxador que desfilava no "Estrelão"! Andávamos juntos e jogávamos juntos. Juntos, íamos ver ela lavar roupa. Ela morava num apê colado a sede do Sport Club Rio Grande, nas proximidades da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Aliás, a igreja contrastava com o cheiro de pecado o qual exalava. A área de serviço dela dava para o lado da sede. Do telhado da sede a vista era perfeita. Então, na hora da lavação de roupa, nos amontoávamos e ficávamos espiando na maior excitação. Ali o Chambinho descobriu o seu corpo, quiçá o fio-terra. O brabo era descobrir o horário da lavação. Aquele que sobrava na rodada ficava de campana lá em cima. De repente, gritava a senha:
 — Ao gol dez!!!
Era aquela correria, subitamente as partidas eram paralisadas e a gurizada amontoava-se para vislumbrá-la.

A disputa saía da mesa e seguia no telhado, por uma posição mais favorável. Não havia lugar para todo mundo, dava uma agonia, agora eu, agora eu! E ela lá, só de calcinha. Uma calcinha bem pequeninha. E Hawaianas. Porque lavava só de calcinha, ninguém nunca descobriu. Mas lavava, e lavava com vigor, cantarolando. E nós: que gostoooosa!

O mais entusiasmado, o fã número 1 dela era a Vaquinha. Retranqueiro na mesa, chegava a saltitar de emoção quando estava no telhado. Só que nunca deixávamos que visse a ela por muito tempo. Era um retranqueiro e retranqueiro tinha de esperar. Pior que retranqueiro, era virgem. Não que algum de nós fosse muito menos virgem, mas a Vaca era o mais virgem, se é que isso é possível. Nós outros tínhamos, cada um, pelo menos uma experiência. Uminha. Geralmente mal-enjorcada e rápida, mas pelo menos havia algo a se contar. A Vaca, nada. Vivia se lamuriando:
 — Quando é que vou perder a virgindade? Vou demorar mais que o Jorge Velho???

Foi aí que concebemos um plano: por que ele não pedia ajuda a ela? Por que não pedia que ela, tão dadivosa, resolvesse o seu problema? Bastava pedir, Vaca, bastava expor-lhe o drama, vai, Vaquinha.

Tratava-se de dupla maldade, evidentemente. Em primeiro lugar, preconceituosos, derramávamos nossa frustração em cima da mulher que nós desejávamos, mas que sequer nos olhava e, se nos olhasse, nos veria como meros cavadores lascados. Em segundo, de alguma forma demonstrávamos que havia uma casta inferior à nossa, que havia um ser ainda mais infame: Vaquinha, o virgem absoluto, o retranqueiro da sede, o "dois toques" da turma.

Passávamos os dias insistindo:
— Pede a ela, Vaquinha. Fala da tua virgindade. Desabafa. Ela vai topar.

A Vaquinha começou a se convencer de que talvez tivéssemos razão. Tratava-se de um crédulo, de uma pessoa que confiava nas outras pessoas. Pensava em alto tom: "O que eu faço, Neuza?". Sempre foi um bom sujeito. Um dia, anunciou:
— Eu vou! Vou pedir a ela!

A notícia eletrizou a turma. Ficamos imaginando a cena, o fiasco, o escândalo. Ele seria espancado, decerto. Seria enxotado por ela. A Vaquinha marcou até a hora: no fim da tarde, ela sempre descia para dar uma banda, fumar um Carlton e passear com seu poodle. Nessa hora, Vaquinha a abordaria, relataria o seu drama e lhe imploraria por seus favores.

Na hora da descida dela, estávamos excitados. Única vez que a cúpula do SCRG suspendeu a rodada. Até os botonistas da Riograndina sabiam da intenção da Vaquinha e ficaram na expectativa. Todo o botonista da cidade estava na expectativa. Talvez toda a FGFM.

Bom. Às seis da tarde, mais ou menos, ela desceu. Encostou o ombro no vão da porta do edifício, sacou um cigarro e ficou soprando fumaça para o alto, distraída. Vestia um shortinho branco, uma blusinha azul-marinho e Havaianas. Dudinha olhou para ela e ficou petrificado. Certamente, lembrou de sua antiga paixão, Mariana. 

Nós, queríamos ver o "dois toques":
— Vai lá! Vai lá!

Os caras mais velhos:
— Vai lá! Vai lá!
Até mesmo o Seu Ely estava com um sorriso sildenafilado...

Os vizinhos:
— Vai!

Todos queriam zombar da Vaquinha. E ela, por vias nem tão indiretas assim. A Vaquinha era boa pessoa mesmo, achava que todos queriam o seu bem. Respirou fundo, emitiu um suspiro doído, e foi. Ninguém acreditava que teria coragem, mas ele foi, ofensivo, bem ao estilo Mateus Pierobom nos lisos.

Enquanto se dirigia, meio vacilante, para o local, ela, ladina, percebeu que havia algo estranho no ar. Não parecia mais relaxada. Ao contrário: estava ereta, atenta, farejando a maldade no ambiente. Os poucos metros que a Vaquinha venceu para chegar até ela, via-se que os percorreu com sofrimento. Com dor. 

Parou diante dela. Ela olhou para ele, muito séria, e em seguida olhou para nós, olhou para a turma dos caras mais velhos, olhou para tudo no entorno. A Vaquinha começou a falar. Ela olhava para ele e dele olhava para nós, olhava para ele e olhava para os caras mais velhos.

Finalmente, ficou olhando só para ele, ouvindo-o, deste tamainho. Se tivesse um chapéu nas mãos, estaria rodando-o e amassando-o. Ela ouviu a Vaquinha, ouviu, ouviu. Nós, rindo, esperávamos que ela o esbofeteasse, que o expulsasse dali, que gritasse com ele. Mas ela não dava mostras de estar nervosa, nem ofendida.

Ele terminou de falar, ficou de cabeça baixa, fitando a ponta dos all star amarelo. Ela deu uma última baforada no Carlton. Atirou a bagana no meio da rua. Ergueu o queixo. Olhou uma última vez para todos nós, ali em volta. E, a seguir, tomou a Vaquinha pela mão e sumiu com ele prédio adentro.

Ficamos, nós botonistas, os caras mais velhos, os vizinhos, todo mundo, ficamos abestalhados no meio da rua. Passados dois minutos, corremos até o corredor, imaginando que ela e a Vaquinha estivessem em algum canto, rindo de nós. Não estavam. Ela o levara para o apartamento dela. A Vaquinha só saiu de lá tarde da noite. Quem o viu, disse que sorria, sorria sempre, sorria sem parar, como se tivesse vencido o Brasileiro de Lisos.

Vaquinha nunca contou o que aconteceu durante aquelas horas. Nunca descobrimos o que se passou entre ele e ela. Mas, depois daquele dia, a vida dele mudou: ele nunca mais foi vê-la lavando a roupa, e ele nunca mais foi chamado de retranqueiro.

Amanhã no Gothe Gol é dia de Jotinha em Férias Especial !

2 comentários:

AFUMECA disse...

Alex! Te vira! Encontra este tal de Vaquinha e termina esta história! Muito boa esta primeira parte mas a que esta guardada com ele, certamente foi bem mais emocionante!!!

Parabéns pela descrição!

Abraço

Rangel

indio disse...

Grande texto lembro bem desta época estava eu chegando ao convívio dos amigos no Rio Grande e via os colegas espiando eu no forte da minha puberdade, já viu no que dava né, e o mais incrível nisto tudo é que ela não tinha narigão.
Sabe que ao ler esta coluna tive a nítida impressão de estar lendo uma coluna do DAVID COIMBRA, parabéns.