domingo, 11 de agosto de 2013

BATE BOLA com Sambaquy




















Futebol de Mesa em Santa Catarina – Brusque

Em 1973, transferido de Caxias do Sul para a cidade de Brusque, em Santa Catarina, tive de me separar temporariamente do futebol de mesa. A cada quinze dias viajava até Caxias para cumprir meus jogos no campeonato daquele ano. Havia terminado o primeiro turno, dividindo a liderança com o Airton Dalla Rosa. Era um campeonato que estava sendo disputado na sede situada no Edifício Martinato. Com as viagens constantes e o desgaste pelos quinhentos quilômetros percorridos, sabendo que ao final dos jogos deveria percorrê-los novamente, a minha atenção não podia ficar presa ao jogo. Apesar disso tudo acabei conquistando o terceiro lugar, atrás do Airton Dalla Rosa (Campeão) e Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa (Vice).

Retornando à Brusque, com o final de ano chegando e a praia deliciosa à minha disposição, esqueci por alguns dias o meu esporte. Além disso, jogava futsal e futebol de campo. Novos amigos iam aparecendo todos os dias, principalmente no Banco. Uma manhã, pelo correio, recebo da Liga Brasil, de Salvador (BA), uma medalha, me honrando com a distinção como um dos dez mais destacados botonistas do Brasil. Os colegas futebolistas, ao verem a medalha, inquiriram sua procedência. Tive de explicar que se tratava de futebol de mesa. Um pouco de dúvida por parte de alguns, até que um carioca perguntou se era o futebol de botões. Confirmei e surgiram antigos praticantes, todos interessados.

Como morava perto do Banco, em um apartamento central, levei-os para mostrar os botões e os meus troféus, junto com alguns álbuns de fotografias que estava organizando. A alegria de todos foi muito grande e resolveram fazer encomendas de times, pois eu tinha os endereços dos principais fabricantes baianos da época.

Telefonei ao Marcos Zeni e solicitei que me enviasse uma mesa. No mesmo dia ele providenciou e embarcou uma mesa que estava no G. E. Flamengo, sem uso, pois o departamento fora encerrado.

Coloquei a mesa em um quarto do apartamento, e, depois do expediente os colegas iam para lá, aprender a jogar. Dentre os colegas havia um menor estagiário chamado Roberto Zen. O Roberto convidou o irmão Valter para conhecer o futebol de mesa na Regra Brasileira. O Valter foi e levou junto seu cunhado Sérgio Walendowsky. Sérgio era o gerente de um comércio de ferragens muito conceituado na cidade e região. Foi amor à primeira vista. Mediu a mesa, suas marcações, tamanho do goleiras e disse que iria encomendar na marcenaria de seu tio uma idêntica, para colocar em sua casa.


















Sambaquy, Merísio (de amarelo), Ary Merico e Oscar Bernardi

A história fica engraçada, pois nem o Sérgio e nem o Valter conseguiram explicar ao Walmir Merisio, que era casado com a prima do Sérgio e a esposa do Valter, o porquê da encomenda. O Walmir Merisio era genro do dono da marcenaria, e encarregado de fabricar a mesa. Ao saber que era para jogar botão, Merisio começou a gozar com a cara dos dois.

- Ora veja dois barbados jogando botãozinho.... Quero ver e tirar fotografia para mostrar para todo mundo.
O Walmir Merisio havia sido jogador profissional de futebol e atuara no C. A. Carlos Renaux de Brusque, Paissandú de Brusque, Juventus de Rio do Sul e Palmeiras de Blumenau. Era um zagueiro vigoroso e muitas vezes fora expulso de campo por suas jogadas ríspidas.

Terminada a mesa, é transportada para a casa do Sérgio. Os dois cunhados, com a mesa nivelada, colocam os seus times (Vasco da Gama do Sérgio e Fluminense do Valter). Dois times padronizados, bonitos, que encheram o tapete verde de madeira.  Os olhos do Merísio brilharam de forma diferente. Adiantou-se e disse textualmente: - Eu fiz a mesa e tenho direito de ser o primeiro a jogar nela.

Adonou-se de um dos times e enfrentou o adversário. Terminado o tempo, mudou somente o adversário, pois o Merisio continuava na mesa. Quando terminaram de jogar, indicado pelos cunhados foi me procurar. Eu tinha disponível um Corinthians. Comprou-o na hora, mas deixou encomendado um Juventus, pois queria homenagear um clube que lhe dera muitas alegrias.

A partir daquele dia passou a ser o fabricante das mesas que foram usadas em Brusque, na AABB, na Liga e no Guarany, além de vários compradores que as mantinham em casa para seus treinos.

Nos anos de 1974 e 1975 recebíamos muitas visitas de caxienses que iam ajudar a divulgar o futebol de mesa entre os catarinenses. Airton Dalla Rosa, Luiz Ernesto Pizzamiglio, Marcos Zeni, Adaljano Tadeu Cruz Barreto, Nelson Prezzi e a todos o Merisio queria enfrentar. O Pizzamiglio logo o apelidou de “Velho” e o apelido pegou até entre nós.

No segundo campeonato citadino ele se sagrou campeão, jogando uma enormidade. Mas, como era um tremendo gozador, muitas vezes era surpreendido, pois deixava os adversários mais fracos marcarem gols e depois não conseguia recuperar. Por isso ficou somente nesse primeiro campeonato.

Conseguiu vencer o torneio dos campeões, que reuniu todos os campeões brusquenses e que foi realizado somente uma vez, no ano 1980. Na década de oitenta foi quando houve a aproximação com o inesquecível Claudio Schemes, que seguidamente nos visitava em função de suas atividades profissionais. Muitas foram às ocasiões em que o acolhíamos em nossa sede para disputas de amistosos, sempre sendo testado pelo Merísio. Realizamos muitos intercâmbios com o pessoal da AFUMEPA que estava iniciando suas atividades. 

Uma ocasião o Merísio chamou-me até sua casa, para mostrar a sua galeria de troféus. Havia conseguido um armário de vidro e nele colocara os troféus e medalhas, faixas de campeão catarinense, e os seus troféus ganho no futebol de mesa.

Em 1995, no mês de janeiro, um enfarte o levou de nosso convívio.

Campeões brusquenses de futebol de mesa.

1974 – S. C. Internacional (Adauto Celso Sambaquy)
1975 – E. C. Juventus (Walmir Merisio)
1976 – S. C. Internacional (Adauto Celso Sambaquy)
1977 – Moto Clube (Marcio José Jorge)
1978 – S. C. Internacional (Adauto Celso Sambaquy)
1979 – Independiente (Sérgio José Moresco)
1980 – Vascão F. M. (Marinho Vieira)
1981 – A. A. Ponte Preta (Edson Appel)
1982 – Santa Cruz F. M. (Edson Cavalca)
1983 – Santa Cruz F. M. (Edson Cavalca)
1984 – São Paulo F. M. (Roberto Zen)
1985 – Guarani F. M. (Decio Belli)
1986 – Santos F. M. (Toni Nicolas Bado)
1991 – Botafogo F. M. (Carlos Bernardi)
1992 – Bahia F. M. (Marcelo Bianchini)
1993 – Brusque F. M. (Ricardo Zendron)
1994 – Fluzão F. M. (Mário Muller)
1997 – Botafogo F. M. (Carlos Bernardi)

Depois de haver cumprido meu ano como presidente da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, deixei de disputar os campeonatos, me afastando da Associação.

De 1986 a 1990 houve uma parada, com muitas desistências, sendo reativado pelos filhos dos botonistas, os quais disputavam campeonatos infantis. Em 1991 iniciaram uma nova etapa, terminando em 1997.

Em 1981 construímos uma sede própria, no Bairro Guarany, onde colocávamos, na parte superior, sete mesas confortavelmente. Apesar de ter conseguido essa grande conquista, não houve prosseguimento e a sede ficou abandonada, até que a Prefeitura Municipal a requisitou para uso em benefício do bairro.

As realizações da Associação Brusquense de Futebol de Mesa

No ano de 1979 realizamos o primeiro torneio Sul Brasileiro, que depois tornar-se-ia o campeonato Centro Sul. O campeão na ocasião foi Dirnei Bottino Custódio, de Santana do Livramento.
Quando inauguramos a sede social da Associação Brusquense de Futebol de Mesa realizamos um grande torneio festivo, onde se sagrou campeão Edson Appel, vice campeão Airton Dalla Rosa, terceiro lugar Luiz Ernesto Pizzamiglio e quarto colocado Adauto Celso Sambaquy (na foto abaixo atiualizando a tabela do 7º brasileiro em 1981).



















Em 1981, o sétimo Campeonato Brasileiro foi realizado nas dependências da Sociedade Esportiva Bandeirante (na foto abaixo algumas premiações), com a presença de altas autoridades na abertura dos jogos. O campeão foi Hosaná Sanches. O troféu de campeão era tão grande que tivemos de despachar por transportadora até a cidade de Salvador, pois o Hosaná não tinha condições de carregá-lo no avião.


















Em todo o tempo a indústria e comércio brusquenses sempre apoiaram nossas iniciativas e nos prestigiaram com troféus, medalhas e brindes diversos. Até armários de aço nos foram presenteados, onde guardávamos documentos e alguns deixavam seus times. Infelizmente fomos roubados, e muitos quadros onde havíamos moldurado times de diversas épocas desapareceram, inclusive um quadro onde fizemos homenagem a um associado falecido. Havíamos colocado a fotografia dele, sua camisa e seu time, para, que como homenagem, ficasse eternizado. Levaram tudo.

Além disso, duas enchentes destruíram as mesas que tínhamos na sede. Por ficar na margem do Itajaí Açú, no delta do rio Guabiruba, e por estar uma região baixa a água nos deu um enorme prejuízo. Tivemos de refazer todas as mesas, mas o entusiasmo era grande e conseguimos nos restabelecer.

A Associação Brusquense de Futebol de Mesa recebeu a visita de Geraldo Cardoso Décourt, em setembro de 1982, quando os associados ofertaram um churrasco e lhe presentearem com um lindo cartão de prata agradecendo pelos seus esforços na divulgação do futebol de mesa brasileiro.

Aquele movimento que se iniciou com tanto entusiasmo foi ficando minado e acabou desaparecendo, apesar de ser a única associação brasileira com sede própria, escriturada em seu nome. Às vezes eu penso que as dificuldades são o tempero para que o futebol de mesa cresça cada vez mais. Quando tudo fica fácil, acaba não dando certo.

Até o próximo Bate Bola.

5 comentários:

Ítalo Petrecheli Bigliardi disse...

Grande Sambaquy,

Estando estabelecido em Brusque - SC à 1 ano e meio e lendo está sua narrativa, ainda entusiasmado pelo 3º lugar conquistado no Brasileiro de Floripa no último final de semana e passar pelo bairro Guarany e ler ainda escrito na fachada do prédio " Associação Brusquense de Futebol de Mesa ", brota novamente o desejo de reviver o futebol de mesa brusquense.

Hoje apenas treino algumas vezes com um amigo, mas somente na regra 12 toques, mas a paixão pela nossa regra, 1 toque, ferve no peito e faz o coração balançar para ter o sofrido mas gratificante trabalho de reativar esta associação.

Pensarei a respeito e espero poder um dia lhe enviar um e-mail para comparecer na Associação Brusquense de Futebol de Mesa já reaberta.

Grande abraço e fique com Deus!!!!!

lhroza disse...

LH.ROZA...
Meu "ÍDOLO"...como já postei anteriormente, esperar pela sua próxima "coluna",sempre nos causa a expectativa de que a HISTÓRIA do Futmesa é interminavel.

Venho comunicar-lhe que também participamos XL Campeonato Brasileiro Livre em Florianópolis,os resultados pouco fizeram a diferença.
O mais importante foi rever e estar batendo uma bolinha entre "velhos" e novos botonistas.

Perdemos as honrarias de 3º MELHOR VELHO desse Brasil varonil conquistado em Cascavel-PR.2012

MAS A LUTA CONTINUA e outras competições deveremos voltar à participar.

SAMBAQUY, Adauto Celso disse...

Útalo e Roza,
O importante de tudo isso é sempre participar. Acredito que com algum esforço o futebol de mesa em Brusque, na Regra Brasileira possa ser reerguido e voltar a mostrar a força que sempre teve, enquanto esteve ativo. Será uma alegria poder voltar àquele local onde fui muito feliz e poder jogar a minha partida de despedida, pois aposentado já estou há muito tempo.

SAMBAQUY, Adauto Celso disse...

Ítalo e não Útalo. Desculpe o nosso erro.
Roza, quem sabe essa partida possa ser a desforra do centro Sul em Caxias.

Ítalo Petrecheli Bigliardi disse...

Hoje estava perto antiga sede da Associação Brusquense de Futebol de mesa e decidi passar por lá e dar uma olhada, então tirei 2 fotos e postei no meu facebook.

Se quiserem conferir:

www.facebook.com/italopbigliardi

grande abraço aos amigos