Tempero Pernambucano
Já que o sucesso do tempero baiano está bombando no Gothe Gol, vou falar hoje do tempero pernambucano.
Para essa viagem a delegação gaúcha, ainda composta somente de caxienses adquiriu passagens aéreas e voou pela Varig. Compunham a delegação: Rudy Vieira, Mário Ruaro De Meneghi, Walmor da Silva Medeiros, Marcolino Pereira (Tico) e Adauto Celso Sambaquy. Era dia 11 de agosto e aqui no sul ainda o frio predominava. Partimos de Porto Alegre, fazendo escalas em São Paulo e Salvador antes de chegarmos a Recife. No avião fizemos amizade com as comissárias de bordo e nos foi recomendado o Hotel Boa Viagem, local onde elas também ficariam hospedadas. No hotel, após um banho reconfortante, com roupas menos pesadas, fomos surpreendidos com a chegada de IVAN LIMA. Ivan era o presidente da Liga Pernambucana de Futebol de Mesa, e insistia em nos retirar do hotel para nos alojar no Geraldão, local onde as delegações seriam hospedadas, sem custos. Como já havíamos preenchido nossas fichas, ocupado os apartamentos sugerimos a ele que pelo menos essa noite nós ficássemos no hotel, saindo no dia seguinte.
Na portaria do hotel conheci o famoso Ademir Marques de Meneses (Queixada), grande centro avante do Vasco da Gama e da Seleção Brasileira. Lá também conheci o Manga, grande arqueiro bi-campeão brasileiro pelo Internacional.
Após a janta, Ivan nos carregou
para conhecer a noite pernambucana. O detalhe importante disso tudo é a
influência e a notoriedade da figura do Ivan. Era locutor esportivo e tinha um
programa na TV Rádio Clube de Recife. Aonde ele chegava às portas se abriam
imediatamente. Visitamos algumas boates e ele nos carregou a um bar na beira do
mar. Como se estivéssemos recobertos de mel, as mulheres começaram a chegar e o
Ivan as apresentava a todos nós.
Nessa noite eu não dormi no
hotel. Acabei no apartamento de uma delas. No dia seguinte, depois do café da
manhã saímos para a praia onde o restante do pessoal estava me esperando. Fechamos a nossa conta no hotel e partimos
rumo ao Geraldão, onde um alojamento maravilhoso nos esperava. Instalados começamos
a explorar as redondezas e encontramos um amigo pernambucano, Beto, treinador
de voleibol feminino que passou a ser nosso guia. Como o campeonato começaria
somente no dia 13, aproveitamos o dia para conhecer Recife. Fizemos passeios e
ao meio dia estávamos em uma churrascaria, onde todos os garçons vestiam
bombacha, mesmo não sendo gaúchos. Foi gratificante a maneira como fomos
recebidos naquela cidade tão bonita e histórica. No Geraldão, as funcionárias
eram meninas muito lindas e simpáticas.
Era um sonho estar encontrando amigos que haviam participado do primeiro
brasileiro, realizado no ano anterior e fazendo novas amizades. A noite houve o
congresso que determinou as regras do campeonato e findo o mesmo, partimos para
nova investida noturna. O treinador de voleibol feminino conhecia algumas
boates que na época eram o top de linha. Numa delas eu me engracei com uma
telefonista da Ciba, e o resultado é que novamente eu não dormi junto com a
delegação. Fomos para um hotel, pois naquele tempo não havia motel. Acordei
pela manhã aflito, pois não sabia onde estava e o campeonato iniciar-se-ia
dentro de pouco tempo. Despedi-me da menina, deixando o valor da diária do
hotel para ela acertar quando saísse e fui para a rua. Por sorte, um taxi me
viu e eu me encaminhei para o ginásio. Cheguei a tempo de vestir o uniforme e
pegar o time, indo para o local dos jogos. Com tanta farra, eu não estava
preparado para disputar nada. Joguei a primeira contra Luiz Antonio, do Rio de
Janeiro e venci. Aliás, em todos os campeonatos que joguei nunca perdi para um
carioca. Depois a ressaca tomou conta de mim e perdi para Washington (Maceió),
Reginaldo (Aracajú), Oldemar Seixas (Salvador), Antonio Pinto (Recife) e
empatei dom Manuel Nerivaldo Lopes, de Guarabira (Paraíba). Havia um clima de
guerra entre Recife e Salvador, pois ambos queriam o título. Na partida que
perdi para Oldemar, estava o jogo 2 x 1 para ele, quando soa o final da
partida. O árbitro era Antonio Pinto, de Recife. Eu estendo a minha mão, como
sempre o faço após os jogos para cumprimentar o Oldemar, e para surpresa nossa,
o Antonio Pinto diz: o jogo não terminou, estou dando os descontos, segue a
partida. Oldemar arregalou os olhos, pois eu havia criado uma jogada para
chutar a gol, mas como não havia feito a solicitação e a campainha tenha soado,
não forcei a barra. Era a chance de empatar o jogo, e, tirar a Bahia do caminho
deles. Pedi para Oldemar arrumar o goleiro. Oldemar arrumou e me olhou com os
olhos embaciados. Pensei comigo mesmo, que baita sacanagem esse menino está
fazendo com o meu amigo. Afinal, nós estávamos em situação bastante difícil e
não tínhamos mais chance alguma de lutar por nada nesse campeonato. Somente a
minha primeira vitória e nada mais. Não havíamos feito ponto algum, além dos que
eu marquei. Pensei comigo mesmo, naquela fração de segundos entre o chute e a
conseqüência... fazer o gol e abalar uma amizade, por culpa de um ato leviano
de um árbitro? Chutei a bola para longe do gol, propositalmente. Aquilo irritou
o Antonio Pinto que havia me convidado para fazer uma viagem ao interior, tão
logo acabasse o campeonato. O convite
foi cancelado, pois ele não voltou mais a falar sobre o assunto.
No final, Pernambuco conquistou o
titulo de campeão por equipes, e no individual, dois baianos fizeram a final:
Dartanhã e Cesar Zama. Fui escolhido para ser o arbitro dessa final.
Após a nossa participação no
certame em equipes, voltamos para o alojamento, pois havíamos comprado uma
cachaça que era exportada para o mundo e fizemos uma caipirinha. Quando
estávamos degustando a nossa caipirinha, representantes da Prefeitura de Recife
foram nos dar as boas vindas. Levaram uma garrafa de Jonnhy Walker 12 anos para
nós. Mas, ao provarem a caipirinha não quiseram mais saber o uísque. Ficaram
conosco um tempão, contando causos e escutando nossas histórias. Ao final do
campeonato, esses mesmos representantes da Prefeitura foram nos buscar e nos
ofereceram um almoço, com comidas tradicionais de Pernambuco, oferta de
Prefeitura.
No dia 17 de agosto, depois do
campeonato terminado, uma apresentação de Sargentelli e suas mulatas. Todos
eles hospedados no Geraldão. Fizemos amizade com as mulatas, meninas
maravilhosas. Para os gaúchos foi reservada uma mesa na frente do palco, e
dentre as músicas tocadas houve uma em homenagem ao Rio Grande do Sul. Foi à
glória. Não ganhamos nada, mas nos divertimos um bocado.
Houve também uma entrevista na TV
Radio Clube de Recife. Ivan Lima nos levou e ficamos conversando sobre o
futebol de mesa. Como eu havia participado da criação da regra, muitas das
perguntas eram feita para mim, e eu falei algum tempo aos pernambucanos. Quando
rumamos para o Aeroporto de Guararapes, ao apresentarmos nossas passagens, a
menina que nos recepcionou, arregalou os olhos e disse: - Eram vocês que
estavam na televisão? Foi muito excitante ser reconhecido e ter um tratamento
diferenciado no aeroporto.
O nosso retorno foi por etapas.
Havíamos prometido aos baianos que faríamos uma parada em Salvador. Junto
conosco seguiu o Antonio Carlos Martins, que despachou a sua turma de volta ao
Rio de Janeiro e passou a figurar como se gaúcho fosse. O pessoal baiano estava
no antigo aeroporto Dois de Julho nos esperando. Ademar Carvalho e Roberto
Dartanhã com seus carros nos carregaram para um tremendo tour em Salvador.
Deixaram-nos em um hotel, contratado em troca de publicidade no programa do
Oldemar. Ficamos alguns dias em Salvador, curtindo o sol baiano, queimando
nossa pele e esquecendo que nos esperava o restinho de frio daquele ano.
De Salvador viemos, com escala no
Rio de Janeiro e desembarcando no Salgado Filho, com uma temperatura que nos
fez tremer de frio, pois todos estavam com roupas leves. Na volta a Caxias, o
carro que havia ficado em uma garagem em Porto Alegre, começou a falhar e quase
ficamos na estrada. Por sorte o filho do Tico havia se deslocado a Porto Alegre
e ao nos ver no acostamento, parou e depois de rebocar o carro do Mário, nos
fez chegar a nossa cidade.
O passado já foi, aconteceu, mas
é delicioso recordar tudo isso e saber que fomos os desbravadores do movimento
que hoje é feito com a maior facilidade por todos os participantes, pois quem
usa cartão de crédito acumula milhagem e troca por passagens aéreas, coisa que
naquele tempo era caríssimo.
Daqui a quinze dias estarei
falando do terceiro campeonato, realizado em Caxias do Sul, no ano de 1972.
Até lá, um abraço.
2 comentários:
LH.ROZA
Quem diria...já na queles tempos a "gurizada" aprontava fora de "casa"...
Amigo SABAQUY, só uma pergunta ??? Essa foi uma "narrativa" ou uma histórinha ???
Rozinha,
Éa realidade de outros tempos. Mas eu só falei de mim, pois assumo o que fiz. Se quiseres ter certeza, tenho algumas fotografias "escondidas" que provam o que falei.
Por isso eu tenho tanta saudade de Recife e Olinda...
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